segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre caminhos não lineares

É engraçado como as coisas não são nada lineares. Um caminho leva a outro que poderia parecer imprevisível, mas, na verdade, faz todo o sentido.

Eu, por exemplo. Fui um cinéfilo na adolescência e a escolha do meu curso de graduação se baseou em qual parecia ter a mais interessante disciplina sobre cinema. Formei e percebi que o meu interesse não era o cinema per se, mas a narrativa, as histórias bem contadas.

Como roteirista, escrevi filmetes pedagógicos, o que me aproximou dos estudos sobre educação. Misturando educação e narrativa, vi como os assuntos poderiam ficar mais claros se fossem abordados como histórias e se falássemos sobre como os humanos lidavam com eles. Cheguei, daí, ao design. Design thinking me levou ao design de serviços, que me levou a design de informação, que me levou ao design gráfico. E o design gráfico trouxe um bocado de arte na minha vida. Comecei a levar a sério desenhar. Paralelamente, desenvolvi um genuíno interesse em psicologia e questões relacionadas ao cérebro. Inevitavelmente, isso me levou a pensar um pouco sobre ciência e sobre o corpo humano.

Passei a procurar livros sobre design e conversar com designers. Da mesma forma que procurei bibliografia sobre cinema e papos com cinéfilos num passado distante. Igual quando procurei textos sobre narrativas e roteiristas num passado um pouco mais recente. E, claro, de forma semelhante, busquei referências sobre pedagogia e educadores, psicologia e psicólogos e por aí vai.

Aprendo muito mais sobre design lendo sobre pedagogia e psicologia. Aprendo um bocado sobre pedagogia lendo sobre narrativas e ciência. E mais um pouco sobre psicologia lendo sobre design. E, como no parágrafo anterior, por aí vai. Um conhecimento completa o outro. Assim como os neurônios do nosso cérebro não funcionam sem outros neurônios. Assim como nós, seres humanos, não avançamos sem outros como nós. O conhecimento de um precisa do conhecimento dos outros.

Tudo isso só para falar de um livro que, à princípio, seria uma simples biografia sobre um renomado e falecido chef de cozinha francês. Mas, em um parágrafo, “O Perfeccionista”, da editora Record, dá uma pequena aula sobre design, educação, conhecimento, negócios, criatividade, sobre pensar. Transcrevo abaixo:

“Todo o tempo que passaram nas disciplinares e semimilitares brigades das grandes cozinhas ensinou-os (os irmãos chefs Jean e Pierres Toigros) a executar com perfeição um número de procedimentos que, por aquelas normas há muito estabelecidas, resultavam em determinados pratos predefinidos – mas esses procedimentos não os conduziam a um autêntico envolvimento pessoal com o seu trabalho. Estiveram seguindo regras, sem pensar. Jean-Baptiste (o pai dos irmãos chefs) os fazia pensar, e os fazia provar a comida. Depois de anos montando pratos maquinalmente, os cozinheiros têm a tendência de esquecer a função elementar de provar efetivamente sua própria comida. Ao ensinar aos seus filhos a adotar a visão do cliente sobre o ofício deles, Jean-Baptiste transformou Jean e Pierre de profissionais de cozinha tradicionais em chefs modernos. Então, avançou ainda mais com uma ideia totalmente incongruente: conduziu-os a sair do salão de jantar para conversar com clientes e – que outra coisa poderiam fazer? – conversar sobre comida. Assim iniciou-se o muito à vontade, tranquilo, mas ainda assim altamente profissional relacionamento de equidade entre cliente e cozinha que um milhão de restaurateurs ao redor do mundo logo estariam imitando”.

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